SÃO LUIS 406, EU TE AMO DESGRAÇA
Hoje ela faz mais um aninho, pelo menos no calendário da história oficial.
Fico me perguntando qual cidade celebrar? A que se esquece nos labirintos escuros do lixo, da desordem urbana, dos urubus sempre presente de aniversário? Da histórica azulejada contra o salitre que flutua de sua longa faixa de maré?
A geografia distanciou a cidade de outras capitais, mas sobretudo a política no decorrer das décadas tem nos limitados a tarefas simples como tapar ou não buracos, que por sorte ou azar tem um período específico para paliativos, nesse momento, alguns sortudos logradouros foram beneficiados pelo manto preto que nas primeiras chuvas fazem com o refugo cotidiano e popular o caminho até o mar solitário e cansado.
São Luís é linda, isso é fato.
Eu gosto do seu dia e da sua noite, gosto de como os encontros se dão na maioria das vezes ao acaso, aqui amores nasceram e morreram, alguns vítimas da estatística que nos qualifica como uma das mais violentas do mundo, outras são bem mais agradáveis e me lembram um reggae que sai pela janela do meu vizinho.
Pobre Upaon-Açu dos espíritos tribais.
Rica São Luis das moradas sem quintais.
Aqui eu nasci e me criei, fiz de quase tudo abrigo, rua, bares, paralelepípedos e a necessidade sempre foi um companhia e aliada nos piores e melhores momentos, é difícil não amar, eu, um cafetão lhes entrego sem receio e cheio de ciúmes.
Por que teu tudo/nada é tudo/nada que me resta, lamentar tuas dores me sobrevive nesse mar de marasmo e solidão pública, privada e marginal.
Não quero ser injusto contigo minha amada, logo tu que me disse uma vez que sou teu reflexo, tua imagem e semelhança, somos carne e osso, ruas e rios, esgoto e lixo, paixão e morte, espigão e condomínios, postes e escuridão em ferro distorcido.
Óh minha cidade, deixa-me viver, eu quero cantar a tua covardia e o medo que sente de ti mesma, vou sempre te esperar em uma esquina cheio de amor com um copo de mágoa e aguardente, na boca da noite eu me calo para ver o teu sol queimar no mar junto com mais uma primavera, amanhã te amarei mais ainda, porque entre palácios e palafitas meu coração ainda pulsa em um couro de uma zabumba.
Te amo desgraça, parabéns.
blza... de Creuza 😎
ResponderExcluirMassa
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