O CARNAVAL ACABOU, VIVA O CARNAVAL

Com provável origem nas festas antigas que reverenciavam o renascimento da natureza em festivais pagãos,  em homenagem ao deus Saturno e incorporado pelo calendário católico, começou o carnaval.
Mas foi no Brasil que essa festa popular e democrática alcançou a apoteose de alegria, irreverência e liberdade, que por 3 dias toma conta de todas as ruas  do país.
No final do século XIX começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos corsos. Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e em grupos desfilavam pelas ruas das cidades. Está ai a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. Mas foi a  partir do anos 50 que o carnaval deixou de ser uma manifestação popular pra ganhar status de um espetáculo grandioso visto e conhecido por todo o mundo. A escola de samba carioca Salgueiro ajudou o carnaval brasileiro a passar por uma transformação definitiva nos anos de 1960/70 quando teve no seu enredo o tema Xica da Silva, escrava brasileira que rompeu padrões do século 18. Xica tinha tudo para desistir, mulher, negra, escrava, ela zelou pela educação dos filhos e depois do marido branco partir para a Europa, assumiu sozinha os negócios da família, algo extraordinário para os padrões da época, infelizmente fantasmas que assombram até hoje.
No decorrer das décadas o carnaval ganha vida e se supera em criatividade e insurreição. Homem vira mulher, mulher vira homem, adulto criança, mas é na política que encontramos a nossa maior folia, sempre presente seja nos grandes desfiles das escolas de samba ou pelos blocos de rua o carnaval tem na sua essência subverter os padrões e criticar as mazelas, a hipocrisia e o poder. Em plena ditadura militar a escola de samba Império Serrano, no Rio, botou na avenida em 1969 o samba-enredo Heróis da Liberdade, com versos que pareciam direcionados ao regime militar; bem antes estivadores baianos criaram o bloco Afoxé Filhos de Ghandy em protesto ao arrocho salarial do governo federal, em 1940; em 2019 é lançado o bloco Acadêmicos da Ursal, sigla fictícia que virou símbolo de resistência depois de devaneios em debates no período eleitoral de 2018 no Brasil e agora, a Estação Primeira de Mangueira sagra-se campeã do carnaval carioca com o enredo História Pra Ninar Gente Grande que conta a trajetória de heróis esquecidos e anônimos, especialmente índios e negros. Entre os homenageados, a vereadora Marielle Franco, executada a tiros em 2018, crime ainda sem elucidação.
O carnaval é palco para dores e delícias e a maior expressão sintetizada de um povo que sobre tudo é um lutador mas não abre mão da alegria muito menos do enfrentamento das questões do cotidiano, e essa folia é também enredo para posicionamentos sobre qualquer tema social, portanto  esse conceito de ser uma festa alienada ou promíscua não possui lastro histórico e há milhares de exemplo que comprovam que ser feliz tem tudo a ver com resistência.
Até "um rei mal coroado que não queria o amor em seu reinado pois sabia não ia ser amado" ganhou grito: “ Ai ai ai…."
No final das contas a maior festa popular do planeta é sobre a liberdade, e a liberdade nada tem a ver com tristeza.

Liberdade, liberdade abre as asas sobre nós...






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