ALCÂNTARA E SEU UNIVERSO PARALELO

Depois de mais de 6 anos retornei a cidade de Alcântara e mais uma vez percebi que o tempo por lá é definitivamente diferente. Não são só suas ruínas que lembram um titã desferido e que insiste em ficar de pé ou suas ruas de pedra que movem o infinito ao passar, Alcântara precisa dessa paz que não se respira nem se toca com pele. O seu andar devagar nos encalça rumo há alguma coisa que nunca pode ser imediata e que busca nas folhagens lembranças de um tempo que parece ainda vai chegar. Quando alguém passa por lá, não passa só pelas suas ruas e sim por rios de águas, suor e sangue onde poucos como um distino Sisifo remam. Alcântara submerge todas as luas, ela é a hora solta que teima em reinar. Que o tempo faça sempre assim, uma senhora que caminha, um barco pescador, sua odisséia permanente, um farol distraído pelo vento e suas casas escondidas do concreto.